O pior legado de Lula
Já que o nosso presidente apareceu ontem na TV, com aquela demagogia de sempre, falando que uma nação só existe se houver povo!!!, segue três textos que mostram bem como a República Sindicalista opera quando está no poder. São dois artigos e um editorial publicados no jornal O Estado de São Paulo. Para não ficar tão longo, cortei alguns parágrafos onde está assinalado (...).
Suely Caldas
Nunca antes na história deste país a corrupção foi tratada com tanta tolerância, e vulgaridade, como algo natural, instintivo, inerente ao ser humano, que acontece, vai continuar acontecendo e anormal seria se não acontecesse. Nunca antes um presidente do Conselho de Ética da Câmara dos Deputados teve o cinismo de vir a público justificar a corrupção: "Na minha terra cachorro que não tem pulga teve ou vai ter. Defeitos todos temos", disse o deputado Sérgio Moraes (PTB-RS) ao frear o processo contra o deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, (PDT-SP), acusado de embolsar propina para liberar empréstimos do BNDES. E o Conselho que ele preside é de Ética!
Nunca antes em 55 anos de sua história o BNDES teve seu nome associado a uma quadrilha que, segundo a Polícia Federal, se apossava de dinheiro de seus créditos cobrando propinas. Mesmo no sistema fechado da ditadura militar, em que não havia fiscalização e tudo era encoberto pelo regime de força, nunca houve registro de fraudes com dinheiro público manejado pelo BNDES. Havia no banco uma espécie de muralha humana de funcionários dedicados e capacitados a impedir que prosperassem ou até fossem iniciadas ações mal-intencionadas de gente de dentro e de fora do banco. E sua maior fonte de recursos, o Fundo de Amparo do Trabalhador (FAT), sempre teve ali seu conselho funcionando e integrado por dirigentes das centrais sindicais como hoje. Mas os corruptos precisavam de um ambiente de abertura, incentivo e tolerância com a corrupção para começar a agir. E isso o governo Lula lhes deu.
(...)
Os afagos do presidente, a absolvição antecipada e incondicional dos corruptos, a justificativa de que a corrupção sempre existirá como barganha na divisão de poder na democracia dão força para eles agirem, estimulam quem antes hesitava. É este o pior legado que o governo Lula deixará para a presente e para as futuras gerações. Muito diferente do que pregava quando era oposição e acusava todos os partidos de corruptos avocando para si o monopólio da honestidade, ao assumir o poder, o Partido dos Trabalhadores (PT) mostrou não que era igual a todos, mas simplesmente o pior deles. Permitiu, usou e incentivou práticas corruptas, ocupou cargos técnicos, outros estratégicos para a proteção do Estado, com pessoas despreparadas, indicadas por partidos aliados que levam para o governo a idéia de que ali estão para servir ao seu partido político, não ao País.
(...)
A era Lula será lembrada no futuro pela retomada do crescimento econômico, pelos avanços na área social, mas também ridicularizada pelos dólares na cueca, pelo mensalão, sanguessugas, aloprados, malas de dinheiro, ONGs e intermediários avançando sobre o dinheiro público. Será lembrada pelo estrago histórico causado pela desconstrução das instituições que alicerçam a democracia.
*Suely Caldas, jornalista, é professora de Comunicação da PUC-RJ.
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O negócio da política
Sergio Fausto
Por que, mesmo antes de surgirem os indícios mais veementes, a maioria das pessoas informadas já presumia a culpa do deputado Paulinho da Força no esquema de corrupção desvendado pela Polícia Federal? Porque o padrão de atuação revelado é típico do modo pelo qual, com desenvoltura cada vez maior, as organizações sindicais e seus representantes se estruturam para capturar pedaços do aparelho estatal e fatias de recursos públicos.
Nesses esquemas pode ou não haver desvio de recursos para o enriquecimento pessoal (no geral, há). O que sempre está presente é o uso simultâneo do aparelho sindical como trampolim eleitoral e ferramenta de extração de vantagens junto aos órgãos do governo. Trata-se de um movimento duplo, que se reforça mutuamente, uma vez que a conquista do mandato parlamentar facilita o acesso aos cofres públicos, o que, por sua vez, fortalece a organização sindical e vice-versa.
Estudos recentes, como os da professora Maria Celina D?Araújo e do professor Leôncio Martins Rodrigues, documentam o aumento da participação de sindicalistas entre os membros do Executivo e do Congresso, respectivamente. Em teoria, o ingresso de novos personagens na cena principal da vida política, combinado com a alternância no poder, da qual tivemos um belo exemplo em 2002, seria um sinal de vitalidade da democracia. As barreiras de classe estariam sendo superadas e o universo da representação de interesses se abrindo a quem antes dele não participava. Do governo "de poucos" estaríamos passando para o governo "de muitos".
Esse é o lado bom da história. O lado ruim é que a incorporação de sindicalistas tem significado não maior transparência no trato dos assuntos e recursos públicos, mas, ao contrário, a reiteração, sob novas formas, das piores tradições de apropriação privada e/ou corporativa do espaço da representação e dos recursos públicos no Brasil. Novos personagens, velhos vícios, o que põe em xeque os benefícios da democratização "quantitativa" da elite política.
(...)
A conseqüência é grave e pode agravar-se mais ainda. A gravidade está em que a desmoralização da vida pública, em geral, e da atividade parlamentar, em particular, faz com que delas fujam os jovens de maior talento e melhor formação moral. Os danos para a imagem e o funcionamento do Congresso são imensos. (...) O mau comportamento de alguns parlamentares contamina toda a instituição, que já goza de má fama.
O problema não é só brasileiro. Em todas as pesquisas e em todos os países, a reputação do Congresso e dos parlamentares não é das melhores. Em vários há queixas e críticas quanto à deterioração da qualidade dos representantes no Legislativo. Onde as tradições e instituições são mais sólidas, os riscos para a democracia são menores. Onde aquelas são mais frágeis, estes são maiores. Uma coisa é certa: não pode haver vida longa para a democracia onde o Congresso e os parlamentares não desfrutem de uma reserva razoável de prestígio. No Brasil, para recuperá-la é preciso refazer os elos perdidos ou jamais estabelecidos entre os representantes e os representados: reforma do sistema eleitoral. Mas também reforma do Estado, para proteger os cofres públicos dos negócios da política.
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A ação decisiva na venda da Varig
Mesmo para os padrões éticos do lulismo - que submetem a moralidade política e administrativa às conveniências da patota no poder, sendo imoral o que as contrarie -, são estarrecedoras as revelações sobre o engajamento espúrio do governo para facilitar a venda da Varig, com a participação direta - e decisiva - do advogado Roberto Teixeira, velho amigo, benfeitor e compadre do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na história escabrosa relatada (...) pela ex-diretora da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) Denise Abreu, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, e a secretária-executiva da Pasta, Erenice Guerra, aparecem aplastando sumariamente as tentativas do órgão regulador de verificar, como lhe competia, a legalidade do negócio.
De seu lado, um dos sócios brasileiros da interessada na compra da Varig, a VarigLog, Marco Antônio Audi, informou ter pago ao compadre de Lula US$ 5 milhões para "trazer resultados". Disse, textualmente: "Não sei o que o Roberto Teixeira negociou. Só sei que investi nele, ele tinha que trazer resultados e trouxe. Sua influência foi 100% decisiva."
(...)
Eis o flagrante em cores da intimidade do governo Lula. Exibe a desfaçatez com que o Palácio do Planalto se acumplicia com as jogadas de um traficante de influência do porte do "papai"- o advogado em cujo apartamento Lula morava de favor em São Bernardo do Campo e que já no início dos anos 1990 era favorecido por atos escusos da prefeitura petista de São José dos Campos, no mínimo com a conivência do primeiro-companheiro do partido. Não fossem esses vínculos, ninguém pagaria a Teixeira US$ 5 milhões para garantir - até mesmo despachando no gabinete presidencial - que nada obstasse, do lado do poder público, a consumação de um negócio suspeito, simplesmente impossível em outras circunstâncias. Mas esse escândalo não apenas evidencia o modus operandi da cúpula do governo quando se trata de usar o Estado para fazer favores pessoais a quem está credenciado a recebê-los. É o primeiro escândalo de que se tem notícia nesses anos da ética do vale-tudo que alcança direta e inequivocamente o titular da República. Desta vez, Lula não pode alegar que não sabia ou que foi traído.
Suely Caldas
Nunca antes na história deste país a corrupção foi tratada com tanta tolerância, e vulgaridade, como algo natural, instintivo, inerente ao ser humano, que acontece, vai continuar acontecendo e anormal seria se não acontecesse. Nunca antes um presidente do Conselho de Ética da Câmara dos Deputados teve o cinismo de vir a público justificar a corrupção: "Na minha terra cachorro que não tem pulga teve ou vai ter. Defeitos todos temos", disse o deputado Sérgio Moraes (PTB-RS) ao frear o processo contra o deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, (PDT-SP), acusado de embolsar propina para liberar empréstimos do BNDES. E o Conselho que ele preside é de Ética!
Nunca antes em 55 anos de sua história o BNDES teve seu nome associado a uma quadrilha que, segundo a Polícia Federal, se apossava de dinheiro de seus créditos cobrando propinas. Mesmo no sistema fechado da ditadura militar, em que não havia fiscalização e tudo era encoberto pelo regime de força, nunca houve registro de fraudes com dinheiro público manejado pelo BNDES. Havia no banco uma espécie de muralha humana de funcionários dedicados e capacitados a impedir que prosperassem ou até fossem iniciadas ações mal-intencionadas de gente de dentro e de fora do banco. E sua maior fonte de recursos, o Fundo de Amparo do Trabalhador (FAT), sempre teve ali seu conselho funcionando e integrado por dirigentes das centrais sindicais como hoje. Mas os corruptos precisavam de um ambiente de abertura, incentivo e tolerância com a corrupção para começar a agir. E isso o governo Lula lhes deu.
(...)
Os afagos do presidente, a absolvição antecipada e incondicional dos corruptos, a justificativa de que a corrupção sempre existirá como barganha na divisão de poder na democracia dão força para eles agirem, estimulam quem antes hesitava. É este o pior legado que o governo Lula deixará para a presente e para as futuras gerações. Muito diferente do que pregava quando era oposição e acusava todos os partidos de corruptos avocando para si o monopólio da honestidade, ao assumir o poder, o Partido dos Trabalhadores (PT) mostrou não que era igual a todos, mas simplesmente o pior deles. Permitiu, usou e incentivou práticas corruptas, ocupou cargos técnicos, outros estratégicos para a proteção do Estado, com pessoas despreparadas, indicadas por partidos aliados que levam para o governo a idéia de que ali estão para servir ao seu partido político, não ao País.
(...)
A era Lula será lembrada no futuro pela retomada do crescimento econômico, pelos avanços na área social, mas também ridicularizada pelos dólares na cueca, pelo mensalão, sanguessugas, aloprados, malas de dinheiro, ONGs e intermediários avançando sobre o dinheiro público. Será lembrada pelo estrago histórico causado pela desconstrução das instituições que alicerçam a democracia.
*Suely Caldas, jornalista, é professora de Comunicação da PUC-RJ.
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O negócio da política
Sergio Fausto
Por que, mesmo antes de surgirem os indícios mais veementes, a maioria das pessoas informadas já presumia a culpa do deputado Paulinho da Força no esquema de corrupção desvendado pela Polícia Federal? Porque o padrão de atuação revelado é típico do modo pelo qual, com desenvoltura cada vez maior, as organizações sindicais e seus representantes se estruturam para capturar pedaços do aparelho estatal e fatias de recursos públicos.
Nesses esquemas pode ou não haver desvio de recursos para o enriquecimento pessoal (no geral, há). O que sempre está presente é o uso simultâneo do aparelho sindical como trampolim eleitoral e ferramenta de extração de vantagens junto aos órgãos do governo. Trata-se de um movimento duplo, que se reforça mutuamente, uma vez que a conquista do mandato parlamentar facilita o acesso aos cofres públicos, o que, por sua vez, fortalece a organização sindical e vice-versa.
Estudos recentes, como os da professora Maria Celina D?Araújo e do professor Leôncio Martins Rodrigues, documentam o aumento da participação de sindicalistas entre os membros do Executivo e do Congresso, respectivamente. Em teoria, o ingresso de novos personagens na cena principal da vida política, combinado com a alternância no poder, da qual tivemos um belo exemplo em 2002, seria um sinal de vitalidade da democracia. As barreiras de classe estariam sendo superadas e o universo da representação de interesses se abrindo a quem antes dele não participava. Do governo "de poucos" estaríamos passando para o governo "de muitos".
Esse é o lado bom da história. O lado ruim é que a incorporação de sindicalistas tem significado não maior transparência no trato dos assuntos e recursos públicos, mas, ao contrário, a reiteração, sob novas formas, das piores tradições de apropriação privada e/ou corporativa do espaço da representação e dos recursos públicos no Brasil. Novos personagens, velhos vícios, o que põe em xeque os benefícios da democratização "quantitativa" da elite política.
(...)
A conseqüência é grave e pode agravar-se mais ainda. A gravidade está em que a desmoralização da vida pública, em geral, e da atividade parlamentar, em particular, faz com que delas fujam os jovens de maior talento e melhor formação moral. Os danos para a imagem e o funcionamento do Congresso são imensos. (...) O mau comportamento de alguns parlamentares contamina toda a instituição, que já goza de má fama.
O problema não é só brasileiro. Em todas as pesquisas e em todos os países, a reputação do Congresso e dos parlamentares não é das melhores. Em vários há queixas e críticas quanto à deterioração da qualidade dos representantes no Legislativo. Onde as tradições e instituições são mais sólidas, os riscos para a democracia são menores. Onde aquelas são mais frágeis, estes são maiores. Uma coisa é certa: não pode haver vida longa para a democracia onde o Congresso e os parlamentares não desfrutem de uma reserva razoável de prestígio. No Brasil, para recuperá-la é preciso refazer os elos perdidos ou jamais estabelecidos entre os representantes e os representados: reforma do sistema eleitoral. Mas também reforma do Estado, para proteger os cofres públicos dos negócios da política.
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A ação decisiva na venda da Varig
Mesmo para os padrões éticos do lulismo - que submetem a moralidade política e administrativa às conveniências da patota no poder, sendo imoral o que as contrarie -, são estarrecedoras as revelações sobre o engajamento espúrio do governo para facilitar a venda da Varig, com a participação direta - e decisiva - do advogado Roberto Teixeira, velho amigo, benfeitor e compadre do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na história escabrosa relatada (...) pela ex-diretora da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) Denise Abreu, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, e a secretária-executiva da Pasta, Erenice Guerra, aparecem aplastando sumariamente as tentativas do órgão regulador de verificar, como lhe competia, a legalidade do negócio.
De seu lado, um dos sócios brasileiros da interessada na compra da Varig, a VarigLog, Marco Antônio Audi, informou ter pago ao compadre de Lula US$ 5 milhões para "trazer resultados". Disse, textualmente: "Não sei o que o Roberto Teixeira negociou. Só sei que investi nele, ele tinha que trazer resultados e trouxe. Sua influência foi 100% decisiva."
(...)
Eis o flagrante em cores da intimidade do governo Lula. Exibe a desfaçatez com que o Palácio do Planalto se acumplicia com as jogadas de um traficante de influência do porte do "papai"- o advogado em cujo apartamento Lula morava de favor em São Bernardo do Campo e que já no início dos anos 1990 era favorecido por atos escusos da prefeitura petista de São José dos Campos, no mínimo com a conivência do primeiro-companheiro do partido. Não fossem esses vínculos, ninguém pagaria a Teixeira US$ 5 milhões para garantir - até mesmo despachando no gabinete presidencial - que nada obstasse, do lado do poder público, a consumação de um negócio suspeito, simplesmente impossível em outras circunstâncias. Mas esse escândalo não apenas evidencia o modus operandi da cúpula do governo quando se trata de usar o Estado para fazer favores pessoais a quem está credenciado a recebê-los. É o primeiro escândalo de que se tem notícia nesses anos da ética do vale-tudo que alcança direta e inequivocamente o titular da República. Desta vez, Lula não pode alegar que não sabia ou que foi traído.
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